A praça! A praça é do povo”, escreveu Castro Alves em um dos trechos mais conhecidos da obra do poeta baiano. Mas não mais: a praça, ou ao menos a Praça dos Três Poderes, em Brasília, agora é de Alexandre de Moraes, que faz com ela o que bem entender, mesmo que isso represente mais um ataque a liberdades e garantias democráticas, como se viu no último fim de semana.
Na sexta-feira, dia 25, o deputado Hélio Lopes (PL-RJ) iniciou um protesto: montou uma pequena barraca perto da sede do Supremo Tribunal Federal, na Praça dos Três Poderes, colocou um esparadrapo na boca e anunciou uma “greve de silêncio”; as pautas principais eram a solidariedade ao ex-presidente Jair Bolsonaro, réu do que o deputado considera “perseguição política” por parte do STF, e o apoio ao projeto de lei que anistia os réus e condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023.
Logo outros quatro parlamentares do PL se juntaram a Hélio Lopes. No entanto, na noite do dia 25, Moraes ordenou que os deputados deixassem o local, sob ameaça de prisão, e o protesto foi encerrado na madrugada de sábado.
Até mesmo os turistas que pretendiam visitar o local no fim de semana encontraram a praça fechada por grades e barreiras, e só no dia seguinte a visitação foi liberada, embora as grades tenham permanecido.
Há pelo menos trinta anos não há mais nenhuma necessidade de mostrar ao público em geral que uma das piores, na longa lista de taras do PT e da esquerda brasileira, é a hipocrisia-raiz. É uma doença que não tem remédio; como naqueles casos horríveis de crianças que nascem sem cérebro, o PT nasceu sem uma única célula de sinceridade em todo o seu organismo. É a exata reprodução moral do seu fundador, beneficiário e deus, o presidente Lula.
Ainda assim, por mais que se conheça o cheiro do gambá, o PT não cessa de surpreender o Brasil com sua capacidade de “quebrar paradigmas”, como dizem os palestrantes de autoajuda, em matéria de hipocrisia em seu estado mais brutal.
O seu último acesso de fingimento é a súbita conversão do partido e do seu entorno aos valores do patriotismo. Desde que Donald Trump anunciou tarifas de 50% para as exportações brasileiras, como castigo pelo linchamento legal de Jair Bolsonaro, imaginam que podem lucrar sendo de novo antiamericanos, contra o imperialismo ianque e, por via de consequência, patriotas.
É um cavalo de pau espetacular. Até outro dia, tudo o que pudesse lembrar a noção de “pátria” era um sacrilégio para a esquerda nacional e pelo PT. Para resumir a história toda: o próprio Lula, não faz muito tempo, falou da necessidade de se combater as ideias de pátria, família e religião – todas elas uma abominação para o partido.
“São valores que nós combatemos a vida inteira”, disse o presidente. Tanto ele como o seu partido, porém, são geneticamente incapazes de perder a mínima chance de se comportar com o oportunismo mais grosseiro.
Lula se agarra à miragem de que se tornou herói contra Trump
É o que estão fazendo agora. Como de costume, juntam a falta de senso moral com as suas necessidades do momento. Sentem que é preciso, agora, usar a briga com os Estados Unidos para agredir a oposição; perdem todas nas votações do plenário, mas podem fazer barulho na mídia dizendo que os adversários são “inimigos da pátria”.
Gazeta do Povo