Paulo Polzonoff/Gazeta do Povo
Da primeira vez que vi, tive que fazer como num desenho animado. Fechei os olhos com força, balancei a cabeça. E abri os olhos novamente, com a esperança de ter sido tudo uma ilusão. Não era.
“Tem uma mortezinha daqui, outra dali”, disse a jornalista Eliane Cantanhêde sobre o impacto dos mísseis iranianos em Israel. Enquanto armas israelenses “destroem... é... Gaza... né?... matam... né?... milhares e milhares de pessoas” – continua ela.
“Essa senhora está dizendo isso mesmo?”, me perguntei enquanto assistia ao vídeo mais uma vez. E outra e outra. Para ter certeza e, pensando bem, não sei por que ainda me surpreendo.
Afinal, Eliane Cantanhêde é a mesma que há alguns meses disse que “desqualificar, atacar políticas públicas é crime”. Ah, já sei! Se me surpreendo é porque acredito, realmente acredito na capacidade humana de aprender com os próprios erros. E vou continuar acreditando, apesar de tudo.
Mas, para tanto, é preciso que se reconheça o erro. Foi o que Eliane Cantanhêde aparentemente fez em dois tuítes. No primeiro, ainda insistindo no papel de analista de geopolítica, ela dizia: “Condeno o antissemitismo e não sou um monstro que 'lamenta' poucas mortes em qualquer guerra que seja”. Mas... Mas aí vem o “mas” que estraga tudo e insiste na farsa do interesse jornalístico na diferença entre o poder de destruição dos armamentos de Israel e Irã.
Como diria um cronista mais afeito aos ditos populares, a emenda saiu pior do que o soneto. Alguém, no entanto, deve ter dado um toque na jornalista, porque três horas mais tarde ela emendou a emenda e escreveu: “Depois de rever a gravação da pergunta que fiz na sexta-feira, reconheço que me expressei mal e dei margem a conclusões equivocadas, que não representam meu pensamento, pelo que peço desculpas”.